Entrevista de Rui Fernandes à BrOffice.org nº12 

Rui fernandes, coordenador do Projecto do OpenOffice.org em Portugal, concedeu uma entrevista à revista nº 12 do BrOffice.org a qual publicamos aqui. A edição da revista está disponível para download gratuitamente em http://broffice.org/revista

1 - Qual é a sua formação profissional e como tornou-se coordenador da comunidade OpenOffice.org?


Sou licenciado em Informática e Gestão de Empresas pelo Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), e foi no decorrer do estágio deste curso que me tornei colaborador da Caixa Mágica Software, que é uma empresa que fornece serviços e produtos baseados em Open Source, sendo que, Caixa Mágica, é igualmente a maior distribuição portuguesa de Linux. Foi neste enquadramento que me tornei coordenador do OpenOffice.org Portugal.


2 - Tens índices ou estimativa de número de downloads e usuários do OpenOffice.org em Portugal até o momento?


O total de downloads de versões portuguesas desde o lançamento da versão 3 em Outubro de 2008 totalizam já 566 689, a que se juntam os 500 000 pré-instalados nos computadores Magalhães distribuídos aos alunos das Escolas Básicas, e os 210 000 pré-instalados com Linux Caixa Magica nos computadores dos alunos das Escolas Secundárias.


3 - Há quanto tempo existe a comunidade no país e como foi a organização da mesma?


A comunidade existe em Portugal desde 2004, sendo Vítor Domingos o seu primeiro líder. A comunidade organizou-se com voluntários, com a primeira reunião a decorrer numa instituição do ensino superior, o ISCTE. As localizações e as builds eram feitas localmente. Passou-se depois a contar com a colaboração de Pavel Janik, em Praga, para as builds.

Em 2007 houve uma transferência de testemunho, e passei a ser o novo líder. Para além das contribuições individuais começámos também a contar com as empresas Caixa Mágica, Intraneia e Sun Microsystems. A localização passou a ser assegurada pela Sun Microsystems Portugal, que para além dos menus incluiu também a tradução do Help, que ainda não se tinha completado. As builds passaram a ser feitas pela Sun Microsystems em Hamburgo, e a Caixa Mágica assumiu a gestão do site pt.openoffice.org.

Mais recentemente a comunidade começou também a assegurar os testes de Quality & Assurance, o que permitiu colocar a versão portuguesa para descarga no site principal do OpenOffice.Org


4 - Aproximadamente, quantas pessoas integram a comunidade do OpenOffice.org em Portugal?


Cerca de 9 pessoas, entre voluntários a titulo individual e das empresas que participam no projecto português.


5 - Podes nos falar um pouco sobre as atividades e projetos da comunidade?


A partir do momento em que se conseguiu assegurar a localizacão completa do OpenOffice.org começaram os contactos com o Ministério da Educação. Conseguiu-se em 2004 a instalação dos primeiros 20.000 computadores com OpenOffice.org na partição Linux dos mesmos. Continuou-se depois com a distribuição de CDs com OpenOffice.org e outro software open-source em todas as escolas, o que tem acontecido anualmente. Mais recentemente, desde 2008, o OpenOffice.org passou a estar incluído na partição Linux Caixa Mágica de todos os computadores distribuídos aos alunos portugueses, e já chegámos aos 710.000, com mais 200.000 a serem distribuídos em breve.


Por altura em que foi disponibilizado a versão 3.0 organizámos a semana do OpenOffice.org, que contou com o apoio da Sun Microsystems, Caixa Mágica, ANSOL, Intraneia e Sapo. Neste evento foram organizadas várias sessões de esclarecimento, e participámos no primeiro Encontro Intercontinental do OpenOffice.org onde estivemos ligados por videoconferência com o Brasil, Paraguai, Uruguai e Galiza. Contámos ainda com a presença de Louis Suárez-Potts, o líder da comunidade mundial do OpenOffice.org.


Outro dos projectos com grande impacto foi o desenvolvimento de uma versão do OpenOffice.org adaptada para São Tomé e Príncipe, e que está a ser distribuída pelo governo à Administração Pública desse país.


Temos estado presentes nas últimas conferências do Openoffice.org, à excepção da que ocorreu em Pequim, e contamos também estar presentes em Budapeste.


Publicamos com alguma regularidade Press Releases sobre a evolução do OpenOffice.org, e estamos a planear um canal no Twitter e no Facebook.



6 - No nível governamental, como estão as políticas públicas de uso de software de código aberto, principalmente no que se refere ao OpenOffice.org?


Em Portugal o governo desenvolveu o plano tecnológico em que se previa o uso de software de código aberto no sector público sempre que possível, mas a verdade é que infelizmente a implementação desta tecnologia está longe de ter visibilidade externa.


À semelhança do software aberto, o nível de penetração do OpenOffice.org no sector público é mínimo. Em muitos organismos públicos o OpenOffice.org encontra-se de facto instalado mas raramente é a primeira escolha do utilizador uma vez que existem dificuldades de integração com software proprietário. Ainda assim existiram os projectos já referidos a nível do Ministério da Educação que levaram à instalação de Linux com OpenOffice.org em centenas de milhares de PCs


Vários partidos políticos anunciaram que vão levar ao Parlamento uma proposta de lei para dar prioridade ao software open source na Administração Pública. Já não é a primeira vez que se tenta. Esperamos que com a difícil situação financeira que Portugal vive seja aprovada desta vez.


7 - Entre empresas do setor privado, como está a adoção do aplicativo?


Não existe muito feedback nem estatísticas relativamente à adopção do OpenOffice.org no sector privado, mas acredito que proliferam as “implementações silenciosas”, também motivadas pela crise mundial que nos afecta actualmente, e que conduzem a políticas de redução de custos.



8 - Como é a aceitação open source entre usuários em Portugal?


Apesar da força da Microsoft em Portugal, várias vezes premiada por ser a melhor subsidiária mundial daquela multinacional, as nossas estatísticas demonstram uma implementação ainda pequena mas crescente.


9 - A língua e a história unem Brasil e Portugal. Como é, atualmente, o intercâmbio de informações sobre tecnologias de código aberto entre os nossos países?


As comunidades são sem dúvida a maior fonte de intercâmbio entre os dois países, pois permitem a troca de ideias e conhecimento praticamente em tempo real. A inovação das tecnologias de comunicação tem permitido enriquecer e aumentar as trocas de informação e aproximar os dois países a todos os níveis. Fóruns, blogs, canais de comunicação instantânea e videoconferência têm sido os meios privilegiados discussões sobre as tecnologias de código aberto.



10 - Em sua opinião, como as comunidades brasileira e portuguesa do OpenOffice.org (no Brasil, BrOffice.org) podem contribuir uma com a outra?



A comunidade brasileira do BrOffice.org sempre contou com uma comunidade numerosa e muito activa e sem dúvida que Portugal e Brasil podem ganhar bastante com a partilha de experiências e conhecimento. A divulgação dos casos de sucesso no Brasil pode-nos ajudar na adopção em Portugal. Na minha perspectiva, com o recém aprovado acordo ortográfico, poderão surgir no futuro muitas parcerias por forma a unir esforços e trabalhar em objectivos comuns. Thesaurus, dicionários de sinónimos e corrector gramatical são um bom exemplo disso mesmo.